A oportunidade de olhar tanto para o passado quanto para o futuro de forma atenta e carinhosa nos atravessa todos os dias: tanto como indivíduos quanto como sociedade. Navegamos entre resgatar passados nostálgicos e aceitar nossa responsabilidade de co-criação do futuro, por mais incerto que seja.
O apego ao passado se uniu à cultura do conforto que marcou os últimos anos e continua a pipocar em nossas telas.
Parte da cultura retrô atual é anemoia – nostalgia por uma era que você não viveu –, como, por exemplo, a Hailey Bieber obcecada pelos anos 90 quando sua certidão de nascimento diz 1996.
“Esse estado mental nostálgico foi ampliado e acelerado para uma geração que viveu (e vive) momentos turbulentos.”
The Revival Spiral - The Face
“A Indústria Fonográfica Britânica (BPI) reportou que a venda de fitas cassete aumentou nos últimos 10 anos no Reino Unido, apesar do número ser pequeno comparado ao vinil.”
Rolling Stone
“Considerando o presente e toda a sua tediosa e previsível impresivilidade, e se você pudesse imaginar um futuro diferente, que parece perfeito?”
Julien Dossena
A sociedade investe energia em conhecer e se preparar para um futuro específico ao invés de aprender a navegar na incerteza e se colocar como arquiteto desse futuro.
A presença ativa e simultânea (na mídia e na sociedade) de três gerações gera discussões públicas sobre valores e trabalho, e sobre o que, afinal de contas, significa envelhecer. Será que as afinidades a um passado têm a ver com o seu valor para o mundo coletivo ou se apoiam na nostalgia de um momento que não teremos de volta como indivíduos?
”...momento em que eu era jovem, que eu podia sonhar, que eu tinha toda uma vida pela frente — em que as coisas tomaram um certo desenlace”
E é possível questionar também o etarismo, que esconde um imenso medo de envelhecer e tem sintomas profundos na cultura de hoje. Parte desse medo se apoia muito no fato de que envelhecer no Brasil não é igual pra todo mundo.
“Palavra 'velho' virou 'pesadelo' que reforça medo da sorte que é envelhecer, diz especialista.”
Folha de São Paulo
@kyliejenner no tiktok
Considerando a imprevisibilidade do futuro, o que entendemos como educação (em todos os níveis) também entra em cheque. Quais os conhecimentos essenciais para o ser humano funcional do futuro? Que disciplinas devem ser abordadas para seu aprendizado?
O acesso aos fatos é resolvido em um “enter”, então aprender a lidar com a flexibilidade e instigar a curiosidade e a resolução de problemas interdisciplinares e complexos sejam habilidades que crianças e adultos precisem desenvolver.
“O fato de que o futurismo metodológico visa aprofundar entendimentos sobre este recorte do presente que chamamos de futuro leva a uma conclusão curiosa: livros sobre inovações, metaverso e afins têm pouco a acrescentar aqui, enquanto livros escritos por gente que não tem nem celular podem se revelar preciosos.”
Armados com as ferramentas da curiosidade e de um ceticismo saudável, eles (os estudantes) vão precisar dominar as nuances.
Apesar da nostalgia ser poderosa, revisitar símbolos é se conectar com um passado que não necessariamente representa as evoluções que o tempo e a luta de muitas pessoas fizeram acontecer na sociedade. Essa nostalgia precisa dar conta não só de reconhecer o que o símbolo não endereçou, mas também de propôr uma atualização que reposicione o símbolo na sociedade de hoje.
Nesse momento, um dos principais questionamentos é o uso do corpo no ciclo de tendências da moda e da beleza. Sabemos que o que volta nesse ciclo é o inatingível, e, depois de alguns anos de valorização de curvas e corpos diversos que pareceram um avanço, a verdade é que precisou uma época voltar a estética coletiva para o corpo magro voltar a ser o desejável.
Apesar do inegável sucesso do filme Barbie, mesmo com as suas reinvidicações de diversidade, o debate do que o símbolo representa também faz parte desse mesmo zeitgeist.
“Criatividade, curiosidade e empatia: as disciplinas do futuro”
“A quem não viveu nos anos 1990, vale dizer que a indústria da moda chegou a cunhar o termo “heroin-chic“. Ele faz em alusão à magreza extrema e à palidez das pessoas dependentes de heroína.”