Se em 2020 a necessidade de isolamento colocou a nossa presença física em xeque — forçando uma virtualização apressada do mundo — em 2023 enxergamos um caminho do meio: o híbrido. A relação de simbiose está longe de ser bem desenhada, mas a mistura entre presencial e virtual é definitiva. Hoje, não se consegue mais separar o físico e o digital, estamos vivendo dentro de um espectro figital.
Em 2021, em um estudo autoral da No One sobre o figital, afirmamos: “A pandemia também acelerou a demanda por entregas cada vez mais rápidas. E, novamente, isso faz com que a troca entre on e off fique cada vez mais naturalizada. Tudo em prol da conveniência.” O híbrido — a interação entre físico e virtual — precisa fazer sentido para o usuário e entregar valor.
Com a necessidade de redução do toque físico que vivemos nesses anos de pandemia, vimos o digital substituir o físico em diversos momentos: o e-commerce tomando o lugar da loja física, o WhatsApp ao invés do balcão do mercado e até o PIX se impondo em relação ao dinheiro físico. Muitas dessas trocas trouxeram agilidade, segurança e conveniência para as pessoas, mas nem tudo são flores.
Tido como um dos grandes vilões pós-pandêmicos, o cardápio em QR Code é um bom exemplo de como nem sempre o digital é melhor do que o físico. No texto “Cardápios em QR Codes são a morte da civilização” para o Washington Post, a jornalista Helaine Olen descreve como o cardápio físico é um artefato importante para a experiência de jantar fora:
“já passamos tantas horas por dia olhando para a tela do computador e outras tantas para a tela do celular, por que não usar o cardápio como uma forma de escape desse mundo digital? Além disso, um cardápio impresso pode se tornar um artefato que estimula a interação entre as pessoas. O fato é que nem sempre a conveniência está na tela dos nossos smartphones.”
Com o anúncio do Apple Vision Pro em junho deste ano, temos mais uma gigante na discussão sobre spatial computing, e as possibilidades para sua utilização já são muitas. Nesse contexto, utilizar óculos como forma de imersão em uma realidade virtual é um conceito que vem crescendo nos últimos anos.
Se tratando de experiências imersivas, o renomado V&A Museum de Londres revelou em 2021 a exibição “Curious Alice”, em que os visitantes podiam explorar o mundo criado por Lewis Carroll no clássico da literatura “Alice no país das maravilhas”. Produzido em parceria com um estúdio de games, a experiência virtual permitia a imersão em um mundo criativo que, de outra forma, estaria somente em nossas telas ou imaginações.